segunda-feira, maio 5

Temas fracturantes

(...)
"- Eu não concordo. É contra-natura.
- Oh JC, contra-natura é viver uma vida de merda, sufocado em mentiras e angústias.
- Menina Nádia, Deus criou o homem e a mulher...
- Moral não é direito. Além de que, não há nada de imoral no amor.
- São bichas tresloucadas. Basta ver aqueles desfiles. Parecem Barbies com barba a esfregarem-se uns nos outros.
- O exibicionismo e a promiscuidade irrita-me tanto em gays como em heterossexuais.
- Não me digas que também concordas que eles possam adoptar?
- Claro que sim. Porque eu entendo que o papel primordial dos pais é educar e preparar um ser humano decente para a vida e para a sociedade, logo parece-me profundamente injusto passar um atestado de incompetência a um pai/mãe baseando-me nas suas opções sexuais.
- Tás maluca! E o exemplo que eles passam às crianças? Não te parece preocupante?
- Exemplos? Queres saber o que são maus exemplos? Pais que se embebedam, gajos que espancam as mulheres, às vezes na presença dos filhos, famílias que proporcionam ambientes nada seguros à criança, violências verbais e físicas constantes, falta de amor, ausência de diálogo... isto sim são maus exemplos meu caro.
- Isso é tudo muito bonito, mas é na maioria das vezes demagogia. Aposto que não querias ter um filho gay.
- O que não queria era um filho infeliz ou sem saúde."


Esta conversa (aqui resumida) surgiu a propósito deste estudo vergonhoso.

13 criaturas afundaram esta pérola:

Vieille Canaille disse...

Os homossexuais e as lésbicas aprendem, desde muito cedo, que têm de se defender do mundo pela sua diferença e, acreditem, é muito doloroso! É doloroso saber que os seus sentimentos têm de ser escondidos, camuflados, durante uma vida inteira, e aqueles que se atrevem a serem honestos consigo e com o mundo inteiro, têm pela frente um inferno, uma luta constante contra a descriminação, que muitas vezes acaba em suicídio! Imaginem-se vocês a serem descriminados e gozados, como se fossem palhaços, ou pior, como se fossem uma figura burlesca e bizarra, apenas por se atreverem a amar!!!!! As religiões condenam a homossexualidade (não deveriam elas promover o amor, a paz e a harmonia entre todos os Homens?), os políticos têm medo de falar dela, a sociedade nem pensa, na maior parte das vezes, age brutalmente (lembram-se do caso Gisberta, no Porto?). Poderia aconselhar algumas leituras, como Oscar Wilde ou até mesmo "Orlando"
da Virginia Woolf, alguns filmes como "Tudo sobre a minha mãe" do Almodóvar, "Happy Together" do Wong Kar Wai, "Boys Don't Cry" do Kimberly Peirce, com a Hillary Swank, ou o galardoado "Brokeback Mountain" do Ang Lee, que oiçam Glam Rock dos anos 70 (David Bowie, Brian Eno, Roxy Music, o "Transformer" do Lou Reed), os novíssimos Antony & The Johnsons, o transexual Baby Dee ou os dois primeiros álbuns dos Suede ("Suede" e "Dog Man Star"), vejam fotografias do Robert Mapplethorpe, Michal Macku ou Tee Corinne e... façam uma reflexão!Muitos daqueles que odeiam a homossexualidade, podem muitas vezes, ter alguém que adoram (um irmão, um amigo, etc) que também é, mas que por medo, lhes esconde! Pensem nisso... pensem no que é querer amar e não poder... porque o mundo não quer! Em ter medo de levantar a cabeça na rua, pois as pessoas têm nojo, como se tivesse lepra, ou afastam-se, como se tivesse uma doença contagiosa! Pensem nisso! Vou de férias para o Porto Santo e levo comigo um livro interessante. "O Jovem Persa" da Mary Renault (que fala da homossexualidade na antiga Grécia e descreve a vida amorosa de Alexandre, o Grande - na antiga Grécia a homossexualidade era coniderada normal)).

Vieille Canaille disse...

"Once I pass'd through a populous city imprinting my brain for future use with its shows, architecture, customs, tradition,
Yet now of all that city I remember only a man I casualy met there who detained me for love of me,
Day by day and night by night we were together — all else has long been forgotten by me,
I remember I saw only that man who passionately clung to me,
Again we wander, we love, we separate again,
Again he holds me by the hand, I must not go,
I see him close beside me with silent lips sad and tremulous."

Walt Whitman

Pedro Espírito Santo disse...

Aiiii, santa ignorância a desse seu amigo...

Só falta dizer que é contagioso e que se "apanha isso" por apertar a mão ou por estarem na mesma mesa ao jantar.

Cuidado, eles(as) andem aí e vão contaminar o mundooooo!

Cataclismo Cerebral disse...

Falando do caso específico da adopção, acho ridículo que se considere que as crianças apreendam maus exemplos por terem pais gay. Como se essa opção sexual dos educadores levasse a que as crianças se tornassem obrigatoriamente gays no futuro...

Mais: por essa ordem de pensamento tacanha, se nascemos todos de um pai e de uma mãe, então não haveriam homossexuais (já que as crianças apreenderiam o tal modelo parental). Mas é claro que todos sabemos perfeitamente que os homossexuais não advêm exclusivamente de famílias que escolhem essa opção sexual.

Abraço

mAmAdA_mAn disse...

WWW.MOTORATASDEMARTE.BLOGSPOT.COM

WWW.MOTORATASDEMARTE.BLOGSPOT.COM

Cataclismo Cerebral disse...

"Mas é claro que todos sabemos perfeitamente que os homossexuais não advêm exclusivamente de famílias com essa opção sexual". Isto é o que eu queria dizer ;)

MouTal disse...

Opção sexual...
Eu não optei, já nasci assim...

Gostaria que um dia desenvolvesses o tema.

Quanto ao tema hoje abordado,confesso que tenho muitas dúvidas e muito poucas (nenhuma) certeza.

Abraço.

Woman Once a Bird disse...

Corroboro a perspectiva apontada por Moutal. Falamos de identidades sexuais e não de opções. Aliás, nem os heterossexuais optam por sê-lo.

lampâda mervelha disse...

Os homos têm uma coisas porreiras, são asseadinhos e cozinham bem!

É sabido que para mudar mentalidades há sempre o sacrifício de quem é pioneiro. O problema é que as crianças estariam numa posição melindrosa perante os outros. Mesmo assim, e sabendo que não consigo vestir-lhe a pele de melhor forma, mas se fosse mais um abandonado numa instituição de caridade, à espera de um pai/mãe/pais/mães... é claro que preferia um lar! É claro que queria!!

No meu entender e apenas no pouco valor que tem, desde que as crianças recebam (e saibam dar) o que é essencial, tudo mais são pequenos pormenores.

E continuo a dizer, são asseadinhos e sabem cozinhar!

Rute disse...

Infelizmente ainda há muita gente atrasada. Vários estudos revelam que 10% da população portuguesa é gay ou bi.

A diferença é que antigamente casavam-se e viviam infelizes ou condenavam-se a uma vida de solidão ou viver sempre a olhar por cima do ombro.

Conheço muitos casos que meteriam muita gente hetero a um canto no que toca de valores morais e personalidade.

Quem aceita, aceita. Quem não aceita não condene. Já vi casos em que os pais querem trata-los porque acham uma doença, e muitas opiniões ouvi em que era bem mais granve ter-se um filho gay/bi do que ter-se um filho toxicodepentente.

Como sempre há muita gente de juízos errados e o tuga gosta muito de ficar escanque de não evoluir e de sentir medo da mudança ou do que é diferente. Mentalidades...

Aposto que se esse teu amigo convivesse com gays durante uns tempos sem saber e depois lhe contassem, tenho a certeza que mudaria de opinião.

Resumindo: O cu é de cada um e ninguém tem nada a ver com o que se faz com ele.

*****

Cataclismo Cerebral disse...

Sim, têm plena razão. Expressei-me mal, apenas isso. Corroboro as vossas opiniões...

Abraços

MARNUNEFREI disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
MARNUNEFREI disse...

Ao princípio pensava que a homossexualidade era uma questão de deficiência hormonal. Como exemplo concreto, temos um caso verídico em que… atletas olímpicas, Russas, afim de melhorar os desempenhos, injectavam-se com hormonas masculinos.

Ao fim ao cabo, resumindo, como efeitos secundários, para além da massa muscular e cabelos pudicos nos peitos, desenvolveram uma atracção sexual por elementos do mesmo sexo. Viraram lésbicas!

Mas como tudo na vida, muda. A minha perspectiva não era excepção com a minha mais recente descoberta, isto é, a uns tempos atrás, da meditação.

Comecei, primeiro, como curiosidade, a praticar alguns exercícios de meditação. O que, após uns tempos, e logradas as expectativas, verifiquei dormir melhor…

E aquelas noites perdidas, de insónias, rebolando agitado em idealismos e resoluções, passavam a ser uma coisa do passado.

E para mais que não fosse, dormir melhor, a meditação tinha a sua utilidade.


E com isto em mente, e aqui é que a porca torce o rabo… mas isso é outra historia. Digamos, somente, que a teoria das reencarnações deixou de ser teoria.

Mas esta recém descoberta, por experiencia própria, não o é sem receio.

Com este facto, adveio-me a possibilidade, inevitável, de reencarnar no sexo oposto. E pior ainda, fazer amor com uma mulher, pensando, que noutra vida já foi homem! O que me deixou uns tempos traumatizado… tornar-me no objecto da minha adoração, inconcebível para mim!

A vida é como uma equação, basta um erro de cálculo para sermos induzidos em erro.

E o erro, claro está, no facto da construção de vida ser construída com base numa forma e não na sua essência.

E para aqueles que ainda se lembram da metáfora:

a essência do barro

Uma jarra por ajudar a definir a essência do barro, não quer dizer que seja a sua essência, pois as suas formas são das mais variadas possíveis.

Mas o que será o barro sem as suas formas?

Então, se a vida é liberdade. Não será a sua forma uma prisão?

Mas, ao mesmo tempo, como é que a essência conhece-se como um todo sem a individualização das formas?


Isto tudo para realçar, de igual modo como os gostos, que certos espíritos identificam-se mais com uns aspectos de que com outros. Motivo mais do que suficiente para entrar em conflito quanto tiverem que experienciar o seu oposto.

(No silêncio reside a chave do universo.)