domingo, maio 6

A ler... e reflectir

Em dia de eleições legislativas na RAM, e em jeito de antecipação do resultado da contagem dos votos, deliciem-se com este texto absolutamente certeiro de Guerra Junqueiro.


"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. [...]

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro [...]

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. [...]

A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas; Dois partidos [...] sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, [...] vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar..."




Guerra Junqueiro, "Pátria", 1896.

3 criaturas afundaram esta pérola:

Anónimo disse...

um texto tao actual.
guerra junqueiro foi um dos grandes pensadores deste pais. o que eh triste,eh constatar a mesma podridão das mentes portuguesas tanto na politica,como na sociedade em geral. notar que o texto foi escrito em 1896

Blueminerva disse...

Ora nem mais... um texto com 100 anos e infelizmente tão actual.

Hélder Teixeira disse...

Se me disseres uma alternativa com qualidade a AJJ, talvez concorde contigo.

Jacinto Serrão (PS) - Talvez a Madeira volte aos tempos aureos dos favorzinhos a Lisboa.

José M.Rodrigues (CDS)- Talvez ponha o Teodoro de Faria a secretário regional da educação.

Padre Edgar (CDU)- Talvez o Bêco do Jamboto e a Vereda da Chamorra sejam arranjadas

Paulo Martins (BE)- Talvez as bordadeiras saiam no cortejo da festa da flôr do róximo ano.

Isidoro e Ismael (MPT)- Talvez se tenham candidatado ´só para chatear o Serrão

Baltazar Aguiar (PND) - Talvez só apareça de novo para as próximas eleições (é quando interessa aparecer)

Talvez não tens alternativa para me dar..