sexta-feira, fevereiro 9

Nota final sobre a IVG

Nunca fiz um aborto. Se algum dia estiver confrontada com uma gravidez, o mais provável é que não faça um aborto. Por várias razões. Porque tenho uma família que por certo não me abandonaria, porque já tenho (creio) maturidade para educar, orientar e preparar uma criança para o mundo, mas acima de tudo, talvez não abortava por uma questão de consciência. São três razões...mas haveria muitas mais. É a minha opinião. Seria a minha escolha, escolha essa fortemente sustentada pelo ambiente familiar que tenho e pelos valores morais que me definem como pessoa. No entanto, não posso afirmar categoricamente que não faria um aborto, porque nunca fui confrontada com uma gravidez.

Em relação ao referendo que se aproxima, devo dizer não faço parte do grupo daqueles que argumentam: “A barriga é minha, faço dela o que quiser” e coisas do género.
Sim, tenho dúvidas. Não do ponto de vista penal, mas do ponto de vista ético. Mas essas dúvidas, ficam no meu íntimo, porque não vamos referendar éticas. E entre o emaranhado de dúvidas que se abatem sobre mim, existe uma certeza que eu tenho: poderei a continuar a exercer os meus valores morais como bem entender depois do dia 11 se o SIM ganhar; o contrário não é válido.

Eu vou votar SIM no próximo referendo. E voto SIM porque sei que nem todos têm uma família como a minha, porque nem todos têm uma relação saudável com o parceiro, porque nem todos têm um emprego estável, porque nem todos estão preparados para receber uma criança e proporcionar um ambiente feliz à mesma, e porque - o mais importante - eu não tenho o direito de impor os meus valores morais aos outros.
Eu compreendo alguns dos argumentos apresentados pelos defensores do NÃO, mas na verdade, todos esses argumentos esbarram num problema fulcral: Direito não é Moral.

É importante que se saiba que não vamos referendar valores morais. O que vamos decidir no próximo domingo, diz respeito a uma alínea do Código Penal português. O referendo trata de uma simples coisa : despenalização. No fundo, a questão que se coloca, é se concordamos ou não que as mulheres que abortaram possam continuar a ser perseguidas e condenadas?
Ninguém perguntou ou vai perguntar se acha bem ou mal que se façam abortos - essa é uma realidade com que (bem ou mal) convivemos desde sempre. O aborto e as considerações morais, nas suas centenas de nuances, estão longe de ser matéria consensual na nossa sociedade. Lei nenhuma conseguirá fazê-la desaparecer. Ou será que ainda há quem não consiga entender isto?

E por amor de Zeus, convém esclarecer, mais uma vez, que ninguém no seu perfeito juízo é contra a vida...e não é isso que está em discussão, por muito que faça esse género de campanha.
E a vida não é um valor absoluto, como muitos querem fazer crer. Senão vejamos:
Se eu cometer suicídio e falhar, não sou presa!
Se eu matar em legítima defesa, não sou presa!
Se eu for violada e engravidar posso abortar e não sou presa!
Se eu estiver grávida de uma criança com uma gravíssima malformação do feto posso abortar e não sou presa!
Enfim...haverá mais exemplos com certeza.

Quanto aos senhores da Igreja é bom que percebam que A Bíblia, senhores, é um livro de condutas e princípios, metáforas de ensinamentos, e foi escrita por homens, não por Deus... logo é falível... e não é preciso um QI de 234 para chegar a esta conclusão.

Se o SIM ganhar, será finalmente dada à mulher a opção de escolha. E eu acho que uma mulher portuguesa, a quem o estado cobra impostos, deve ter o direito a poder ser assistida num hospital português. É o respeito pela liberdade, saúde e vida da mulher que está em referendo. Eu gostava de ter esse direito...essa opção de escolha, para quando for mãe, poder sê-lo a 100%... como sempre quis!

1 criaturas afundaram esta pérola:

Hélder Teixeira disse...

Prometi a mim mesmo que não voltava a comentar posts a favor do SIM em outros blog. Mas tem que ser.

A pergunta do referendo desde já, defende os interesses do partido que está no governo, porque isso leva a pensar que falamos da despenalização, mas realmente a pergunta fala da lineralização, Porque agora qualquer mulher sem qualquer justificação pode abortar. Apetece-lhe e pronto, faz.

Nenhum dos lados quer que a mulher seja perseguida e condenada. Isto é dado consumado. Até porque esa lei é uma lei dissuadora e nenhuma mulher atá hoje foi codenada por cometer a prática de aborto.

Um dos vossos maiores argumentos é a continuação do aborto clandestino, mas acham que este realmente vai acabar com a liberalização do aborto? Parece-me que não, porque o aborto clandestino depois das 10 semanas vai continuar e já não sei qual a vossa opinião sobre isso.E nenhuma varinha de condão fará acabar o aborto clandestino. O Serviço Nacional de Saúde não tem condições para concretizar o paraíso prometido pela pergunta que vai a referendo.

Reclamam pelos direitos de saúde da mulher. Se não tivessem abortado concerteza não iriam correr esses riscos. Quem semeia ventos, colhe tempestades.

Eu não gostava que generalizassem aqueles que são contra a liberalização do aborto como seguidores ferverosos da igreja. E que nem todos eles têm estes dogmas religiosos. Eu defendo o NÃO porque temo que o aborto seja tratado com método contraceptivo, e acho que isso só iria fomentar a irresponsabilidade e o facilitismo deste povo, e nós não queremos isso, pois não?

Acho rídiculo dizer que o humanidade de um estado vê-se como trata os animais. Acho que deveriam mudar para: A humanidade de um estado vê-se como trata os nascituros, aqueles que não se podem defender. É de mau gosto haver leis para proteger ninhos de cegonha (e bem), e não se proteger a vida humana.

Nos tempos que correm quem não quer engravidar, não engravida. Não há desculpas.´

Não vamos banalizar a vida humana, não caminhemos para a decadência civilizacional.